VENEZA

 




Veneza se afunda
nesse Adriático
de pouco fundo
mais velho que o mundo

naufrágio que não tem causa
uma cidade que se mercadeja
segundo e seguindo
a vontade de cada doge
o mesmo mar que fez riqueza
emula como nova Ragusa
com essa outra Veneza

todo o passado foge...

amores flutum e se selam
se fazem eternos nas fotografias
com a onda sonora
dessas velhas gôndolas
conforme todas estações
vêm cheias de vivacidade
emanando de Vivaldi
o som fúnebre de todas
as outras canções

nesse mundo que afunda
0 fundo de uma cidade rasa
que firme enfrenta e teme
essa e aquela Ragusa...
o som que vem do fundo
torna tudo mais profundo

imagine Veneza
antes que ela rime
sua antiga beleza
com a brabeza
da natureza

dureza...
se dilui e dissolve
em um mar
de moleza

com os tijolos
e todas as pedras
de São Marcos
não se faz eterna
a leveza

imagino-me
jogando cal e sal
onde corria líquido
o Grande Canal 

para uma cidade
que nada enferma
sobrará um fiume
de Terraferma
que do mar
sente o ciúme

a cidade afunda
mas o mar
cada vez mais
abunda