FARELOS E FARRAPOS, SIGILO E SILÊNCIO

Todas as gotas

São partes

Do arco-íris.

Sônia Elizabeth

O quê fora eu

Além de um todo partido?

Configurei-me em cacos.

Saber do meu martírio

Não aplacou o suplício

De ser um pedaço quebrado.

Foi então, que num belo dia

Olhei para as coisas pequenas

Fragmentas das enormidades.

Vi as formigas trabalharem

Em sigilo e silêncio na labuta.

Vi o grão de areia queimar

Na sustentação do Universo

E brilhar sem se importar.

Vi das gotas de águas

Nascerem oceanos e arco-íris.

Vi a semente gerar gigantes

De copas frondosas e raízes fortes.

Vi de o poeta sair poemas

A povoar a imaginação do mundo.

No fim, vi minha vida espedaçada

Colar os farelos e farrapos de si

Refazendo-se, livrando-se

Das arestas, e entrando em festa

Ao perceber que toda pequena coisa

Faz-se milagrosa grande coisa

Dependendo do ângulo do olhar.