O ANJO

Errante em domínios que a luz abomina

Perscruto entre as pedras de vasta ruína

Vestígios da perda recente

De alguém reduzido à desgraça mofina.

Corrijo o meu vôo a tal sítio indigente

Sem medo, esperança, sem demanda urgente

Que errar sem destino é meu fado

Nos mundos possíveis com sanha demente.

Que pés perturbando esse chão calcinado

Com passo seguro em saudoso passado

Viriam, perplexos, perdidos?

Que mãos abririam portão mais pesado?

Janelas severas, de olhar corrompido

Na dor, outro assombro entre fumo e resíduos,

Fitavam sem crer o que fora um jardim,

Seus gnomos grotescos de morte feridos.

Os sonhos extintos na sombra sem fim

São vultos esquálidos, débil motim

Que ao curso das horas soluços mesquinhos

Não mudam nem podem mais fugir de mim.

As asas agito, sem paz e sem ninhos

Que em trevas assim já não há passarinhos...

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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 22/04/2016
Código do texto: T5612930
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