O ANJO
Errante em domínios que a luz abomina
Perscruto entre as pedras de vasta ruína
Vestígios da perda recente
De alguém reduzido à desgraça mofina.
Corrijo o meu vôo a tal sítio indigente
Sem medo, esperança, sem demanda urgente
Que errar sem destino é meu fado
Nos mundos possíveis com sanha demente.
Que pés perturbando esse chão calcinado
Com passo seguro em saudoso passado
Viriam, perplexos, perdidos?
Que mãos abririam portão mais pesado?
Janelas severas, de olhar corrompido
Na dor, outro assombro entre fumo e resíduos,
Fitavam sem crer o que fora um jardim,
Seus gnomos grotescos de morte feridos.
Os sonhos extintos na sombra sem fim
São vultos esquálidos, débil motim
Que ao curso das horas soluços mesquinhos
Não mudam nem podem mais fugir de mim.
As asas agito, sem paz e sem ninhos
Que em trevas assim já não há passarinhos...
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