Estufa

Estava numa estufa, era mal assombrada

Vidros afiados até da porta feriam

No chão, restos mortais da estufa estilhaçada

E por ela toda, intacta, ainda viviam.

O calor dela era frio, quase como a neve,

Mas um monstro polar, se ali, não viveria

As plantas que jaziam iriam morrer em breve

E de tanto jazir nenhuma morreria.

A estufa era um inferno onde sangue nevava

A roupa me queimava mesmo estando nu

Eu ao mesmo tempo desmaiava e acordava

E o céu que me invadia era nada e era azul.

No meio da estufa havia uma monstruosidade

Parecia uma mulher com corpo de serpente

Suas foices pingavam a sua voracidade

Era um monstro feroz e uma ainda pior gente.

Ela se rastejou em minha direção

Eu tentei fugir, mas minhas pernas caíram

Ela me fatiou da cabeça ao coração

Minha alma e espírito sujos não resistiram.

Morto, talvez vivo?, eu pensei na saudade

De quem eu sentiria, será que havia alguém?

Se estou picado nesta estufa da maldade

Talvez seja porque eu não passe de um ninguém.

Oh, a depressão. Mas que maldita maldição,

Eu sou feito de vidro e me sinto vigiado,

Por dentro um monstro machuca o meu coração,

E por fora, sozinho, eu me sinto intocado.

Será que sou autista? Sofro coa pressão,

Desmereço ajuda, eu sou um desalado,

Vivo uma vida sem ação ou emoção,

Por dentro ou por fora, não passo dum picado.

Sou um picado da cabeça ao coração,

Um picado. Um picado. Sou só um picado.

E quem vai curar o meu bom senso e noção

Se me faço já sendo ainda mais coitado?

19/4/2016