A Esperança



Se em uma noite,
Ao ergueres os olhos para o alto
Não vires uma estrela cintilando,
Abaixes a cabeça e chores...

Se novamente ergueres os olhos
E a estrela não cintilar,
Abaixes a cabeça e reflitas,
Reflitas bastante,
Dês um mergulho dentro de ti,
Se possível, faças uma retrospectiva de tua vida...

Então, ergas novamente os olhos para o céu,
E observes atentamente...
A estrela estará brilhando em algum ponto,
E se ainda assim não a vires,
Abaixe uma vez mais a cabeça e chores,
Pois tua visão está turva,
Sinal de que sua reflexão não valeu.

Procures, acima de tudo,
Não tentes te enganar.
Faça uma auto-crítica sincera,
E chores até as lágrimas
Caírem em abundância sobre o solo
E mais uma vez levantes a cabeça e olhes,
Sem temor e se não a vires,
Certamente a estrela está se escondendo,
Pois em teu coração não há desejo
Suficiente de querer vê-la.

E se ela continuar escondida, não desistas,
Chores e rezes, se for teu caso,
Mas não deixes as lágrimas caírem.
Melhor colocá-las em uma taça e beber,
Sentindo intensamente o sal
E a dor de não ver uma estrela cintilando.

Neste momento ela estará te observando
De um algum ponto.
Então, ergas novamente os olhos,
Mas lentamente, sem precipitação,
Cheio de esperança de vê-la.
Ela não te decepcionará
E teu esforço não será em vão.

E, se ainda assim não vê-la, péssimo sinal:
Teu coração está duro, muito duro.

Mas, não desanimes,
Continues tentando.
Todas as noites olhas para o céu.
Durante horas, se possível noite adentro.

E quando teu coração estiver brando
E dentro de ti o amor e a compreensão
Fizer morada,
O céu se encherá de estrelas cintilando
Para ti.



Poema inspirado em Como Pintar um Pássaro – Jacques Prévert


Do livro Três Estações – 1987 – esgotado.- Escrito em 1979, que ora republico.