Domingo

O domingo se demorava em mim

desde a madrugada

quando os vagalumes anunciaram

a manhã.

O dia não tinha pressa

e conservava a tarde

vestida com a camisola da noite.

Longa, escura, passeio completo

para a festa de gala da manhã,

o luxo do almoço

[o que quer que se coma,

goza calma]

e o luto da tarde

que sempre vem com o crepúsculo,

quando a luz enterra

a bonança do domingo.

Ali jaz o silêncio

que vasculha a alma dos poemas,

a serenidade

que lê as fotografias do passado

e a quietude

que capta as cenas pairadas sobre os olhos...

poesia emoldurada no porvir.

Ali parte o domingo

dentro da noite veloz.

Preciso ler Ferreira Gullar

e outros poetas

antes de ser morta na multidão.

O movimento é inexorável.

A vida muda

como o domingo em curso.