VINGANÇA.
A vingança decanta os passos, congela os impulsos
deixa o sangue menos lépido, menos faminto, menos vadio.
A vingança vem de mansinho no nosso chão,
e se espalha numa espaçosa varanda sem pedir licença.
Vingar desencarde a alma, desenferruja o suor,
respinga certezas pelos quatro cantos do sim.
Quem vinga desnuda seus guizos, suas fantasias sem semente,
deixa a voz debandada, exilada de si mesmo,
faz o sentido ficar menos calado, menos distante.
Vingança é para quem tem caminho certo,
também par aqueles que já esqueceram o caminho de volta,
e também o de ida.
Quem vinga amorna o sol, passa todo o mar na peneira,
deixa a humanidade com suas penas pagas, todas elas, todas elas.
Vingar é dolorido, tem rebarbas nas rebaras das rebarbas
sacode o pó das mazelas com furor de águia demente.
Na vingança as cores viram nódulos pujantes,
os ossos se quebram feito réstias de algodão,
o peito lacrimeja até fazer Deus chorar de pena.
Nas minhas vinganças desfiz os louros falsos que nunca pari,
mostrei para mim mesmo cada canhão inócuo que jazia há tempos,
revelei para meus corações todas mentiras que esgarcei na vida.
Nas minhas vinganças fui mártir, fui engodo, fui contrapeso,
fui tirano.
Refiz minha ladainha com o réquiem tardio da fé,
abati meus enganos com as asas quebradiças da paixão.
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