Comprei pão para o café da manhã,
Meu coração batia aceleradamente,
Pensei que morreria sobre o pano xadrez.
Em meus passos só cabia o passado,
Imagens desgovernadas em nuvens descoloridas,
Toda uma vida na fração de um átomo.
O semáforo várias vezes virou ao verde
Sobre meu coração vermelho.
O pão quente, embrulhado em papel barato,
Espalhou migalhas sobre a faixa de pedestres,
Esses, que olhavam o corpo tombado
Ao lado do replicante embrulho.
Todos os dias meus braços se encontram
Com o balcão banhado de açúcar,
Em companhia das abelhas bailarinas.
Quantas vezes vi acesas as luzes daquele segundo andar,
Enquanto todos dormiam.
Dava-me a impressão de ver dois olhos nas frestas da cortina
A observar-me sorrateiramente,
Como se adivinhando o amanhã que se fez hoje.
Trabalhadores servindo-se das médias amanteigadas,
Saindo da madrugada para o amanhecer,
A labuta incessante em busca daquele mesmo pão que me serviam.
Meu coração sabia do risco que corria.
Tive um sonho premonitório sobre o cemitério
Em que me enterrariam,

Ao menos, havia flores sobre o caixão...
MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE
Enviado por MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE em 14/04/2016
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