Escarlatina obsessiva
Nas horas baixas, arrebato-me
submissa às percepções da noite,
e é aqui, sozinha, que aceito
a invasão destas mãos insones,
o tremor fincado na carne e
este silêncio dançante, incorporado
nas sombras, nas luzes, nos passos,
exausto, etéreo, inebriante.
Nas horas baixas, torno-me grande,
altiva, imponente. E o tremor, mal avaliado,
já não é sinônimo de pavor; não, o meu tremor
é uma dança ritualística, uma terra fértil,
um pássaro pairando no céu, um mar revolto.
Meu tremor é um bicho solto, um desejo de eras,
ímpetos de gritos, gemidos de fera.
E se a ti me ofereço de joelhos, toma-me: pois o tempo
já não é de esperas, mas de esferas: prenhe de inícios.
Se a ti me ofereço, mesmo que tenhas medo, toma-me,
toma-me violentamente; pois ainda que sejas de abismos,
teus abismos satisfazem minha sede.