quem me encheu
Quem me encheu
Desse jeito? Quem?
Me deu eu, eu, mesmo,
Foi mãe
Foi pai
Foi a guerra
Que Não se desfaz
O dente afiado
A faca cega
O golpe de machado
A nos cortar
A nos tirar
A gente da gente mesmo
E tantas palavras
Ingratas, pedrada na cara
Tantas
Tantas e tantas
Que quando não aleija
Mata!
Foi essa redoma
De mentiras
Que nos desgasta
Que nos golpeia
Tanto noite
Quanto dia
Sem os quais
Que faz a vida
Ser um susto
Um muro
Um surto
Uma tortura
No escuro
Foi o ronco estremecido
Dos braços
Do homem
Que soube
O que era homem
Da garganta
Que passa a comida
A palavra
A frase mal compreendida
Foi do corpo
Daquele que
De outro jeito
Não seria ele
Quem me encheu desse
Jeito? Não sei, talvez
O ferimento com
O cutelo do martelo
A serra na carne
A ausência de quem
Presente seria bem;
O olhar, e tantos o foram
Que metralharam
Como se tudo fosse erro
Como se eu fosse um erro
Corrigido na porrada.