quem me encheu

Quem me encheu

Desse jeito? Quem?

Me deu eu, eu, mesmo,

Foi mãe

Foi pai

Foi a guerra

Que Não se desfaz

O dente afiado

A faca cega

O golpe de machado

A nos cortar

A nos tirar

A gente da gente mesmo

E tantas palavras

Ingratas, pedrada na cara

Tantas

Tantas e tantas

Que quando não aleija

Mata!

Foi essa redoma

De mentiras

Que nos desgasta

Que nos golpeia

Tanto noite

Quanto dia

Sem os quais

Que faz a vida

Ser um susto

Um muro

Um surto

Uma tortura

No escuro

Foi o ronco estremecido

Dos braços

Do homem

Que soube

O que era homem

Da garganta

Que passa a comida

A palavra

A frase mal compreendida

Foi do corpo

Daquele que

De outro jeito

Não seria ele

Quem me encheu desse

Jeito? Não sei, talvez

O ferimento com

O cutelo do martelo

A serra na carne

A ausência de quem

Presente seria bem;

O olhar, e tantos o foram

Que metralharam

Como se tudo fosse erro

Como se eu fosse um erro

Corrigido na porrada.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 14/04/2016
Código do texto: T5604905
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