CÓCEGAS NO CIO
Minhas vontades são faíscas que não consigo entreter,
parecem guizos loucos ávidos por sangue,
parecem flancos de pó escondidos no meu porão.
Minhas vontades sacodem o chão sem medo,
deixam meus passos menos cabeçudos, menos encardidos,
são tão intensas quanto manada de ditadores.
Minhas vontades respigam todo mel que guardei de mim,
não aquele mel franzino, meio trêmulo, meio unção,
mas aquele mel vasto, corajoso, que enfrenta pântanos sem deixar de gargalhar.
Minhas vontades abraçam o tempo com sorriso de esfinge,
fazem tudo esquecer que um dia foi de Deus,
fazem as querelas da paixão virarem cócegas no cio.
Minhas vontades descongelam as castas ocas da vingança,
deixam minhas câimbras desparafusadas, meus ventos ungidos,
ofuscam aquilo que tenho de menos folião, de menos ladrão.
Minhas vontades adoram zoar com meus precipícios, todos eles,
são rebarbas bizarras do que outrora fiz por merecer,
são flâmulas arrepiadas nas rebarbas obesas da minha solidão.
Minhas vontades morrem quando o orvalho parar de perdoar,
então virão todas pra receber aquele grito que guardei toda vida,
então virão saciar aquele peito que deixei jogado num tempo qualquer.
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