ACORDO, AGORA ACORDA

Todos os dias acordo para eu mesmo

para o mesmo

para o poema

antes de abrir os olhos reescrevo

corrijo, arranjo a eternidade ora

estancada no mesmo instante

Abro os olhos, ainda sonho?

Todos os dias

antes de abrir os olhos

suspeito acordado e antes de perceber

estou eu para o mesmo, para o poema.

Sem controle, vontade ou razão o processo

da rotina se atualiza, se repete sem fim.

Começa o novo dia pelo fim desmaiado

das sobras, toda manhã

antes de abrir os olhos para eu mesmo

para o mesmo, para o poema.

Pensamento é projeto, nunca resultado.

Porque acordo, amanhece?

Porque abro os olhos, penso?

O pensamento é impulso, extremidade,

tensão, o pensamento é potência recolhida.

O pensamento são as pontas do

arco e o arco inteiro, envergadas.

Nesse estado sonâmbulo suspeito

que talvez seja um acordo de preservação

porque pesam em minhas pálpebras vultos pintados

numa caverna na Serra da Capivara.

A luz rasga docemente o véu que separa

o negrume e permite encarnada, inumerável.

E eu me levanto, ergo o corpo para o eu mesmo

para o mesmo, para o poema, para o dia que te espera.

Antônio B.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 11/04/2016
Reeditado em 13/04/2016
Código do texto: T5602308
Classificação de conteúdo: seguro