ALMAS SIAMESAS

O que é o amor

senão sobras de suores que não se mesclaram

e ficaram à deriva nos seu próprio vai e vem.

O que é o amor

aceno tardio de um vento sem aviso

que tanto fez para se aconchegar nos pensamentos

tanto quis embaralhar os guizos das certezas

que conseguiu.

O que é o amor

troco errado das diabruras que nunca revelaremos

voz ranheta rolando montanha abaixo sem fim

estribo frouxo que faz o medo erguer seu peito.

O que é o amor

respingo venenoso empelotado numa metástase aloprada

querendo saber mais e mais e mais e mais e mais

mas sempre volta à toca com sorriso de mártir vencido.

O que é o amor

senão o avesso do perdão, o inverso do gozo, o repeteco da dor

que tantas vezes se veste de donzela para surrupiar nosso teco de pão

que tantas vezes é fiel nas suas entranhas mais estranhas

que a gente rega, apara, acarinha, aninha, tanto, tanto, tanto

que só acordamos quando nossas cordas se roerem

só afrontamos quando desarmamos cada trincheira e vamos embora

embalados numa sacudida que não deixa nada em pé, nada vivo.

O que é o amor

talvez a certeza de que almas podem virar siamesas,

talvez o sinal de que pessoas podem se tornar uma só flor

talvez o arremate que mostrará que este mundo ainda vale a pena.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 10/04/2016
Código do texto: T5600867
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