Eu sei que era você


Ontem à noite, madrugada de confusos sonhos,
Senti, em minha cama, a inconfundível presença,
Reconheci o cheiro, o sabor, todos os olores,
Abraçado ao travesseiro, senti-me sugada a essência,
Vi-a se enrodilhar nos lençóis e ora quedo tristonho...

Ontem à noite, senti um corpo aquecendo o meu,
Senti a umidade da língua em busca da minha,
Lábios sussurrarem indecências, falando de amores
Que um dia existiram, sepultados hoje, quando definha
A imagem, ao nem mais saber o que é meu ou seu...


Ontem à noite, ouvi atento os apelos da voz rouca,
Murmurar de novo aos ouvidos os anseios do cio,
Como antes, quando éramos amantes e, em clamores,
Senti ecoando toda a inutilidade desse imenso vazio,
Por não estar acolhido em seios, sentindo-a louca...

Ontem à noite, senti o roçar de seios em meu peito,
O encaixe sempre perfeito do côncavo e do convexo,
No sorver mútuo despudorado de nossos tantos olores,
Despendidos a nos descobrirmos no desvario do sexo,
Chegando mesmo a senti-la extasiada em meu leito.

Ontem à noite, noite interminável, de difícil alvorecer,
Senti o calor de coxas me reterem como um laço,
Me conduzirem para o mais íntimo dos tantos amores,
Me tragarem no pulsar cíclico fremente de um regaço,
Para após acordar só... Mas, sei... Eu sei que era você...
LHMignone
Enviado por LHMignone em 09/04/2016
Reeditado em 09/04/2016
Código do texto: T5599890
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