DIGA LÁ SEU PREÇO
Estamos todos à venda
alguns por farelos de pão dormido
outros por uma carteira estufada
também outros por um teco de algo qualquer.
Nosso preço depende da paciência do dia
ou da impaciência tosca de alguém
mas está na nossa fuça em letras garrafais
diz quem somos antes do nosso bom dia.
Somos mercadorias nas estantes encardidas do tempo
esperando que o incauto comprador nos corteje
olhe pra gente com aquela volúpia dos abutres
nos vire do avesso querendo achar algum erro de produção
e mande embrulhar pra levar pra casa na mesma hora.
Cada um vale o que o mercador mandar
neste leilão não dá pra botar máscara, nem pintar os lábios
mostramos nosso cheiro rasgado pra quem quiser entrar
abrimos nossas escotilhas pro mundo se refastelar até sempre.
Diga lá quando valem seus olhos, suas juntas, seus músculos doídos
diga lá quanto vale cada quinhão de sangue, cada osso refugiado neste mundão sem dono,
diga lá quanto vale sua alma desafinada,
diga lá quanto vale aquela vida que deixou jogada num beco qualquer.
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