MENTIRAS COTIDIANAS
Nossas mentiras cotidianas
oxigenadas, capengas, remendadas
dizem bem mais do que seus guizos encenam.
Nossas mentiras cotidianas
mais sujas do que pau de galinheiro
mais toscas do que a fé do rei
quando abrem os olhos envergonham o orvalho,
quando acordam deixam o mundo de quatro.
Nossas mentiras cotidianas
fazem nosso show descabelar,
deixam a alma pelada, depenada, ungida,
fazem nosso suor virar pó.
Nossas mentiras cotidianas
reviram do avesso a chuva, o gozo, a rima, o fim
mostram que somos farsantes sem roteiro,
mostram que somos ocos, melados, depilados na dor,
desparafusam nossas verdades da sua raiz, do seu endereço.
Nossas mentiras cotidianas
aquelas que contamos entre lágrimas, entre puxões de orelha,
as que repetimos antes do carrasco puxar a corda,
as mesmas que juramos terem a assinatura de Deus,
as mesmas que escondemos do nosso lixo a vida toda.
Nossas mentiras cotidianas
elegantes madames com seus beijos de tafetá,
nossas mais bizarras cantorias, nossos porões de arlequim,
nossas câimbras recém esculpidas e revidadas num curtume,
são as reais asas dos sonhos que estamos loucos pra ser,
são a dentada ferrenha na pele inerte do nosso medo mais travesso,
são o alçapão atroz nas diabruras reviradas da nossa paixão.
---------------------------------
visite o meu site www.vidaescrita.com.br