MENTIRAS COTIDIANAS

Nossas mentiras cotidianas

oxigenadas, capengas, remendadas

dizem bem mais do que seus guizos encenam.

Nossas mentiras cotidianas

mais sujas do que pau de galinheiro

mais toscas do que a fé do rei

quando abrem os olhos envergonham o orvalho,

quando acordam deixam o mundo de quatro.

Nossas mentiras cotidianas

fazem nosso show descabelar,

deixam a alma pelada, depenada, ungida,

fazem nosso suor virar pó.

Nossas mentiras cotidianas

reviram do avesso a chuva, o gozo, a rima, o fim

mostram que somos farsantes sem roteiro,

mostram que somos ocos, melados, depilados na dor,

desparafusam nossas verdades da sua raiz, do seu endereço.

Nossas mentiras cotidianas

aquelas que contamos entre lágrimas, entre puxões de orelha,

as que repetimos antes do carrasco puxar a corda,

as mesmas que juramos terem a assinatura de Deus,

as mesmas que escondemos do nosso lixo a vida toda.

Nossas mentiras cotidianas

elegantes madames com seus beijos de tafetá,

nossas mais bizarras cantorias, nossos porões de arlequim,

nossas câimbras recém esculpidas e revidadas num curtume,

são as reais asas dos sonhos que estamos loucos pra ser,

são a dentada ferrenha na pele inerte do nosso medo mais travesso,

são o alçapão atroz nas diabruras reviradas da nossa paixão.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 09/04/2016
Código do texto: T5599451
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