MEDEIA DO SERTÃO
NÃO SEI SE ME EXPLICO BEM
TALVEZ TENHA SOBRADO ALGUM RESQUÍCIO
SÃO DOLOROSAS AS LEMBRANÇAS
EU ME VESTI DE NEGRO
E SAÍ COM O GOSTO RUBRO DO SANGUE DOCE
A SEDE DA VINGANÇA ESQUENTAVA O FLUÍDO VITAL
FEITO MEDEIA ALUCINADA ME EMBRENHEI NA MADRUGADA
ESCURO ERA O CÉU QUE DE VERMELHO SE TINGIA
ONDAS ESCARLATINAS ME INVADIAM
TÃO FULVOS ERAM MEUS PENSAMENTOS
E O VENTO SOBRPRAVA TUDO DO LUGAR
JOGAVA MINHA RAZÃO PARA LONGE
DESTRUÍA MINHA DIGNIDADE
E EU ARRUINAVA TUDO A MINHA VOLTA E MAIS ALÉM
TUDO DESBOTAVA E DESABAVA EM MIM
O VENENO SIBILAVA NA MINHA BOCA
O ÓDIO TRAÇAVA NOSSOS DESTINOS
CRUZAVA-OS, CRUZOU-OS...
ATÉ QUE ENLOUQUECI NAQUELE MAR VERMELHO
AQUELAS CASCATAS ESCARLATES JORRAVAM
A ADAGA ENTRAVA MACIA NA CARNE
QUE SENSAÇÃO MALUCA
DELIREI DE EMOÇÃO
GOSTEI DO SABOR DO SANGUE
DO BARULHO MACIO DA CARNE CORTADA
MEDEIA DO SERTÃO ENFURECIDA NA MADRUGADA
ÉRIS SEMEANDO A DISCÓRDIA
LUA BANHADA DE SANGUE
ESTRELAS PISCANDO COM ÓDIO
E NAQUELA NOITE RUBRO-NEGRA ME FIZ ALGOZ
CAÍ NAS MÃOS DAS ERÍNIAS
ME PERDI NOS LABIRINTOS DA PASSIONALIDADE
EU SÓ QUERIA SER UMA NÊMESIS
E FUI...FUI MINHA PRÓPRIA NÊMESIS
E O SANGUE MANCHOU MINHAS MÃOS
E O OCEANO DE NETUNO NUNCA CONSEGUIU LIMPÁ-LO
E VAGUEI FEITO MEDEIA
A MEDEIA DO SERTÃO