MEDEIA DO SERTÃO

NÃO SEI SE ME EXPLICO BEM

TALVEZ TENHA SOBRADO ALGUM RESQUÍCIO

SÃO DOLOROSAS AS LEMBRANÇAS

EU ME VESTI DE NEGRO

E SAÍ COM O GOSTO RUBRO DO SANGUE DOCE

A SEDE DA VINGANÇA ESQUENTAVA O FLUÍDO VITAL

FEITO MEDEIA ALUCINADA ME EMBRENHEI NA MADRUGADA

ESCURO ERA O CÉU QUE DE VERMELHO SE TINGIA

ONDAS ESCARLATINAS ME INVADIAM

TÃO FULVOS ERAM MEUS PENSAMENTOS

E O VENTO SOBRPRAVA TUDO DO LUGAR

JOGAVA MINHA RAZÃO PARA LONGE

DESTRUÍA MINHA DIGNIDADE

E EU ARRUINAVA TUDO A MINHA VOLTA E MAIS ALÉM

TUDO DESBOTAVA E DESABAVA EM MIM

O VENENO SIBILAVA NA MINHA BOCA

O ÓDIO TRAÇAVA NOSSOS DESTINOS

CRUZAVA-OS, CRUZOU-OS...

ATÉ QUE ENLOUQUECI NAQUELE MAR VERMELHO

AQUELAS CASCATAS ESCARLATES JORRAVAM

A ADAGA ENTRAVA MACIA NA CARNE

QUE SENSAÇÃO MALUCA

DELIREI DE EMOÇÃO

GOSTEI DO SABOR DO SANGUE

DO BARULHO MACIO DA CARNE CORTADA

MEDEIA DO SERTÃO ENFURECIDA NA MADRUGADA

ÉRIS SEMEANDO A DISCÓRDIA

LUA BANHADA DE SANGUE

ESTRELAS PISCANDO COM ÓDIO

E NAQUELA NOITE RUBRO-NEGRA ME FIZ ALGOZ

CAÍ NAS MÃOS DAS ERÍNIAS

ME PERDI NOS LABIRINTOS DA PASSIONALIDADE

EU SÓ QUERIA SER UMA NÊMESIS

E FUI...FUI MINHA PRÓPRIA NÊMESIS

E O SANGUE MANCHOU MINHAS MÃOS

E O OCEANO DE NETUNO NUNCA CONSEGUIU LIMPÁ-LO

E VAGUEI FEITO MEDEIA

A MEDEIA DO SERTÃO

Carla Neumann
Enviado por Carla Neumann em 08/04/2016
Reeditado em 08/04/2016
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