SUA PORTA QUEBROU?

tão tarde para estar na rua

e, mesmo estando só, não sou dono de nada;

nem das horas, nem do chão onde piso,

pois até a barata tem sua própria calçada.

leio lentamente, um a um, cada cartaz.

descubro onde se conserta fogões

e fico sabendo que ainda fazem feitiços,

daqueles que escravizam corações.

tão sem vontade de atravessar a rua

que não sei quem está mais ímpar;

se fosse carta, me poria por baixo de tua porta,

se fosse gato, pediria para ficar.

conto os passos de uma esquina à outra

depois conto os coletivos pela cor.

um dos verdes talvez tenha sido o meu.

perdi-o. pude ver que era o mesmo cobrador