Hoje Posso

Hoje posso!

Posso não,

Devo

Vou falar tudo,

Absolutamente tudo

Que tenho direito

Neguinho me descriminando

Só por que sou preto

Só por que sou da cor do carvão

Ô meu irmão

Sou preto e bato no peito

Tá achando o que?

Que só eu, preto

Que tenho defeito?

Vou lhe dizer um bando de coisa

E fique você sabendo...

Você branco, de alma

Que não tem nenhum amigo

Vive arrodeado de interesseiros granfinos

Você discrimina! Minto?

Só olha pra capa

E sem pestanejar, já julga o livro

Você, que rouba mas ninguém ver

Você, que é da história o ladrão!

Não dá duro

Não cria sete filhos

Com apenas um mísero pão

É você que gasta seu dinheiro sujo, com joias, caras, oriundas do quinto dos infernos

É você que come caviar no teto, na cobertura

É você que aponta e fala: foi aquele neguinho!

Mas não é você que entra na viatura.