intransitivamente, a vida
jogamos no rio
os pecados da resistência
jogamos e rimos
pois neles foram a indolência
jogamos
abre-se no tronco
do tempo
um vale de provimento:
o único lugar
que a vida existe
salvo o rei do firmamento
eu amo
esse terreno
feito de alegria
do lugar seco
brota a água doce
do amor
a vida que me amou
se tu soubes
amar tua tristeza
como poucos
se soube em tua
morte honrar tua
verdade, agora,
que a alegria brota
em tuas veias,
viva-a em sua clareza
mais acrílica, a
sua delicadeza
mais singela, pois
é dela o material
das janelas,
se foste tão
longe e desceste
o rio dos devaneios
e deu o grito mais
forte na hora do pavor
que desatou a mover
nas profundezas, que
foi frio diante do terror,
que soube esperar
pela esperança perdida
que não desanimou
quando faltou-lhe o pão,
podes respirar,
tu és a carne
e tem a terra em teu sangue
e feito de sol
e noite,
sabe tocar
qualquer estrela
que te acene
sabe da noite
e das clarezas do dia...
sabe amar
,intransitivamente,
a vida