20. O grão-Duque da tristeza

Longa é a dor do alento triste do poeta.

A cigarra emite sua doce música,

O pranto punge o peito como o metal que o penetra.

O amor esvaiu-se; restou-me, somente, eu,

Longínquo mundo, onde eu fora eterno espírito.

O licor de chorume corre pelas veias,

Senti o anjo torto encostar-se em mim,

Fui filho indigesto da antinomia e do lampejo desejoso:

Dei o melhor de mim, os cifrões contestei,

Atirei pedras em palácios de cristais,

Despertei vosso padre da Cruz

E o vi caminhar como um burguês.

Zéfiro sobrou e dominou o mundo com seu ser,

Lindo seria ver as aves voarem por cima de nós,

Por isso as mantemos em gaiolas,

Para que se tornem inferiores a deidade humana.

O pejo tornou-se um postulado sem vida.

Caminho por sombras, que por falta de luz própria,

Necessitam-me opor a sua destreza em serem sombras.

Mil vezes, eu contarei a história

E, mil vezes, a história transfigurada será em meus versos:

Ausência de rima e métrica,

A dor não possui palavra irmã

E nem pode ser medida por sílabas.

Vindes a mim, ó musa drummoniana,

Trate-me como uma massa amorfa e modele-me.

Digo 33, o que era para ter sido, mas não foi:

Sangue e leite na reluzente aurora;

Angústia e pão no enevoado crepúsculo.

Feri os dânaos com hasta da ignorância;

Chorei o jovem suicida; desmembrei, a golpes de gládios, o Velho Alemão;

Vi tudo hipostasiar-se em um eterno não;

Tomei pelos chifres o indestrutível toro romano;

Senti o beijo gélido de Brutus em Júlio Cesar.

A decepção criou-me a esperança de não mais me decepcionar;

O intelecto impediu-me de amar,

Criou-me correntes e, paulatinamente, tenho um pedaço de mim devorado.

Tereu alimentou-se de seu primogênito,

A Mulher, que não pode falar, gargalhou.

O que sobrarás, de mim, quando devorarem-me os vermes do coração?

Minha apoteose é não ter apoteose alguma:

- Édipo livra-te do parricídio, disse a vós a vossa pequena.

Nada queres e o lamento não fará brilhar resquício algum de vida.

Os mortos caminham pela cidade;

Os, ainda, vivos traçam caminhos subterrâneos,

Comem lodo e gozam lamentos.

Napoleão, a alma do mundo sobre o cavalo,

Levou a história, na forma de batalha, as massas,

Hoje, a guerra não pertence só a aristocracia,

Vivemos um constante devir:

Uma batalha em que somos todos derrotados.