masoquista parte I

quando me sento de joelhos

não o faço para rezar.

não me ajoelho para atos santos,

não me ajoelho para pedir perdão.

cuspo em quem quer que se coloque em pé diante de mim,

rio de quem se coloca diante de mim

e se por acaso me batem

aceito o tapa na cara como uma puta bem paga,

aceito o desdém, o rancor, o silêncio,

aceito a dor como se dela eu fosse meretriz.

eu choro, você ri

mas quando estou de joelhos não estou meditando, não estou rezando, estou emergindo;

quando estou de joelhos estou blasfemando contra tudo que me é sagrado,

estou ironicamente prostrada em provocação a tudo que amo e

tudo que amo me chicoteia e me rabisca de cortes;

mas me ensinei a amar esse ardor, essa devoção de consorte,

me ensinei a amar todo esse cinismo veemente,

assim meu amor explode em masoquismos

e eu sangro, sorridente.