Aprovação

Me invade

Um sentimento de aprovação

Pelos que sofrem, os que mentem,

Sorriem trabalham.

Pelo altruísta e pelo ladrão.

Por quem usa e quem não usa condom.

Pelos daqui e pelos de lá

De outra terra;

Outro planeta;

Outro lugar.

-Todos nós somos extraterrestres –

Inclusive a Terra.

Aprovo até certas formas de domínio;

Como o domínio exercido pelas mulheres.

Seus olhos são constrangedores aparelhos de

raio X a serviço da Inteligência.

Seus braços são cercas de um campo de concentração.

Seu triângulo de pêlos, um eletroímã.

A boca, uma armadilha de trincheira.

Seios, areia movediça.

E a bunda (a despeito do pênis – como se poderia supor) a própria serpente que nos conduz ao pecado.

-E tenho perdoado a serpente.

Tenho uma frase:

TODO MUNDO TEM RAZÃO.

Somos todos viajantes vulneráveis.

Ansiosos e permanentemente ignorantes.

Quando desaprovo alguém,

Sinto como se desaprovasse a mim próprio.

É como se fosse um tipo de vingança

Do meu eu ladrão,

Do eu covarde e lascivo e egoísta e mentiroso.

Mas vingar-me contra o que?

Mim mesmo?

E quanto aos injustos?

Mais ainda... os inimigos(?).

Jesus me pede para amá-los.

Possível?

Não sei.

É claro que meu sentimento de aprovação tem seus limites.

Mas diante de tamanho desafio,

Aprovar os que acompanham parece algo bem fácil.

Já que somos tão parecidos – todos nós humanos.

Aprovo todas as formas de amor.

Algumas de desamor também.

Sendo o desamor originado na inocência.

Perniciosa inocência?

Mas ainda inocência.

Inocência dos que ignoram

O fato de sermos irmãos e tripulantes do mesmo navio.

Mas é incrível como até estes tem seus motivos.

Movidos pelas águas e ventos, dentro do navio.

‘Stá tudo muito misturado:

O amor e o egoísmo;

A sinceridade e a selvageria;

A aprovação e a covardia.

Nisso a palavra tem sua parcela de culpa.

A palavra é pouca.

A palavra é pequena.

A boca que fala é a mesma boca que fela

(o que não ocorre nas telenovelas).

Mas a boca é surda. E é santa.

E é dependente de ser nossa ama.

A palavra subtrai das coisas

O sentido mais real;

Ininteligível.

E que não pode ser sentido.

Materialista?

- E ser espiritualista, o que é?

Não seria o espírito um tipo de matéria pouco estudada?

Não matéria bruta. Mas uma matéria sutil.

Mas uma espécie de eletricidade

(que é matéria energética – energia vinda da matéria)

Com inteligência.

A ambigüidade está sempre à parte.

O que é dual não mata a cede

Pois secreta é a chave que abre a tampa do cantil.

Os ditos espiritualistas

Nos ensinaram a ver o material

Como algo profano e menor.

Não consigo mais o ver assim.

Amo o pensamento e o ato de pensar.

Mas um toque não pode ser menor que ele.

Os sentidos são o que temos de fato.

O resto é abstrato.

Mas aprovo também os que não buscam entender.

-Que culpa alguém pode ter?

Não desaprovo nem aquele que inventou a diferença:

Não nos fez pedras de um colar simétrico,

Mas seres humanos.

E quem sou eu para desaprovar o livre arbítrio

Que aniquila os inferiores...

O que pensou aquele que inventou o Inventor?

O Inventor que tudo fez...

Quem fez a serpente, sabia o que fazia.

Dela viria a escravidão, a bomba atômica

E a miséria da metade dos homens.

-Não tenho sido pessimista por conta disso.

Acredito um pouco nos homens.

Apenas sofro.

Um egoísmo controlado

Tem se mostrado como minha salvação.

É uma corda bamba e dois precipícios:

De um lado o sonho e do outro a dura vida de todos nós.

-Seja o equilíbrio o pão que como.

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 10/07/2007
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