Guizos e gozos

Meu tempo sabe o curso do rio,

entende porque cada grão de areia ali está.

Meu tempo sabe de onde vem a luz,

faz e desfaz os nós da minha alma sem eu perceber.

Meu tempo conhece cada voz dos meus tombos,

nunca esquece a horar de regar, de podar, de remendar,

de recuar, de fugir, de fingir.

Meu tempo canta todos meus medos num refrão só,

só ele consegue desembaraçar as amarras da minha solidão,

e da minha paixão.

Meu tempo por vezes manca, por vezes chora,

por vezes se encarde, por vezes hiberna,

por vezes se rasga.

Mas nunca deixa de abrir a porta quando volto pra casa.

Meu tempo sorri feito criança diante do primeiro agrado,

olha para mim e entende cada vértebra do meu desejo,

olha para mim e me faz velejar feito algodão no ar.

Meu tempo muitas vezes se ranzinza, fica azedo como ele só.

Então dá vontade de esmigalhar sua cor, seu cheiro, sua matiz,

seu esteio.

Mas logo retomo meu guizo e meu gozo,

entendo que ele também pode se enferrujar,

se desembestar, se desparafusar do meu chão,

se enfurecer feito bolo que passou do tempo.

Então, por certo,

nos abraçaremos tal suor que se fez limo,

tal silêncio que fez fé,

tal arremedo que se fez torpor,

tal Deus que se refez Deus.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 29/03/2016
Reeditado em 29/03/2016
Código do texto: T5588332
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