Meu(s) heterônimo(s)
Inventei um heterônimo
Pra ser medíocre sem medo
Fazendo versos anônimos
Confessando meus segredos
Quis que ele fosse depravado
Pra chocar puritanos de plantão
Fazer versos debochados
E rimar amor com paixão
Meu heterônimo é um ser estranho
Que habita meus melhores pesadelos
Um calhorda sem tamanho
Que faz versos por dinheiro
Inventei um heterônimo santo
Que se embriaga de mulheres da vida
Faz amor e poesia no canto
Em bordeis pelas avenidas
Meu heterônimo será meu avesso
Minha parte romântica agonizando
Meu ego altruísta e réu confesso
Minha sede de fazer versos abrandando
Meu heterônimo, puro deboche
Fazendo versos em plágios rebuscados
Dos sonetos de Florbela ou poetrix de Leminski
Enganando musas e críticos desavisados
Fiz um heterônimo ainda anônimo
Por covardia de um ser lacônico
Com versos que viraram sinônimo
Do falso poeta e seu falso heterônimo!