INOMINÁVEL

Prefiro a natureza das coisas inomináveis

Os momentos que não aceitam rótulos

As emoções que não se podem explicar

Como as manchas no pelo da onça-pintada

O ipê violentamente florido na virada da esquina

Obrigando a cidade cinza a encher-se de cor

O segundo sem fôlego

Do bote do predador

E da incerteza da fuga da presa

O movimento estático

Do beija-flor em seu balé

Imóvel... Em pleno ar

As cores da joaninha

Na ponta do dedo de minha filha

E seu rosto maravilhado ao descobrir que ela voava

O olhar de minha amada encontrando o meu

E o microssegundo de certeza de que sabemos tudo

Tudo o que há de realmente importante para saber

Gosto da fúria contida

Na simplicidade frágil da vida

Da fugacidade das imagens eternizadas na memória

Prefiro a natureza das coisas inomináveis

Os momentos que não aceitam rótulos

As emoções que não se podem explicar

Do livro: PORTA ABERTA (Kiron, 2018)