Animalescamente
Acuado como um bicho ressabiado
Sem demonstrar afronta ou perigo
Dentro da floresta medonha e fantasiosa
Tudo é incerto e os galhos são podres
Num caminho irônico e doloroso
Não lhe restaram lágrimas nem rancor
Onde os sonhos se fazem vertigem.
Dos desejos que cortaram sua carne
Restaram os pedaços de solidão no escuro
Vociferaram os trovões
Em tempestades brilhantes num rosto de distúrbios
Choraram e alagaram seus olhos em relâmpagos
Transformando-os em mar salgado
Cheio de correntezas afogadas na retina
Era a tristeza, era o fim do trago da alquimia
Os metais sem a ilusão, a pedra falsa entre seus dedos.
Um animal feroz a rugir em sua porta
Num grito infundado do desespero
Pedinte da vida, da fome que não tem saída
Ao encarar-se animalescamente
Reconhece a si como a fera.
Fora dos padrões come o próprio verbo
Prefere calar-se, enaltece a mudez
Elege a palavra sem significado
Para nomear o assombro
Que nunca teve e não pode ter nome.