desdém ou a vida nos subúrbios da dor

nas pontas dos dedos amareladas pelo cigarro barato

rachaduras se formam insistentemente

com origens de silêncio.

nas mãos pesadas de solidão

rachaduras se formam apressadamente

com origens de sangue.

e eu escorro pelos poros

abertos até as entranhas

e escorro alérgica de mim mesma.

foda-se minha poesia e

acima de tudo

foda-se tua admiração.

deito-me nas sarjetas,

abro os olhos para doses pouco homeopáticas de fumaça,

arranho a superfície do desespero e me deixo arrastar.

deito-me no meio da rua e não há neve para brincar,

mas eu me esfrego mesmo assim,

faço a carne sangrar.

se me entedio,

levanto num ímpeto de vontade que ainda preenche minha ampulheta e

caminho sozinha.

tu não vens.

as luzes da rua se apagam e

eu já me deixo.

eu me deixo ir.