CANOS ASSOMBRADOS

Velhos fantasmas

Moram dentro de canos

Mais velhos ainda.

Largaram o cemitério

Para sussurrar murmúrios

Enferrujados e agourentos

Para crianças travessas.

Os fantasmas do encanamento

Comem toda a podriqueira lamacenta

Chupando a gordura coagulada, rançosa,

E fedorenta, feito tutano de uma medula doentia.

Os canos retinem e vibram

Ecoando seu arauto assustador.

Os fantasmas estão esperando,

Esperando, esperando e esperando,

Crianças levadas dormirem

Enquanto, comem a escuridão do esgoto

Para, enfim, saírem do encanamento

E iniciarem sua litania infernal para pesadelos.

Para evitar sonhos ruins e fantasmas sibilantes

Tapem, crianças, os ralos, olhos negros do diabo,

E sejam muito, mais muito, boazinhas.