RABECÃO

Cadáver banhado

Pelo homem vivo,

Devidamente preparado

Trajado e pousado

Entre as flores frias

Do seu caixão. O fruto

Do fim da vida

Está maduro e amargo

Pronto para sua comitiva.

Abrem-se as portas

Do rabecão, a gestação

Efêmera da morte

O guia pré-Caronte.

Sirene soa em arauto

O corpo segue

Em lenta procissão.

O cadáver chega

Ao velório. Fruto

De novas lágrimas.

Depois de chorado

Leva-se o morto

Velado para o seu carro.

O cortejo fúnebre

Vai para o cemitério

Parada final sem auriga

Se finda o último passeio.

O caixão pousa no chão

Definitivamente. Saí

O rabecão entra em cena

A gôndola e o condutor

Das águas do Estige.