conjugação dos setenta anos

Do que nos resta

Saber tirar

O melhor proveito,

Cobrando do elegido,

Se eleito:

Que se faça presente

Em cada feito.

Do cavalo dado

Sim, olhar os dentes...

Confiar na ponte

Balançando cordas...

Desconfiar do amigo

Que não acorda

Vendo a água

Bater no peito...

Do que resta

Prestar atenção

Do que é feito.

O silêncio dourado

Viajar esse tempo

Me traz de volta

Para onde sou melhor

Do sonhado ser...

Perdido em pensamentos

Arredio ao tempo

De espairecer.

Este tempo,

Cheio de madrugadas,

Me faz acordando

O amanhecer...

Sentir essa brisa

De novidades...

Conhecer a outra face

Do que venha a ser.

Viajar a este tempo

Me põe acordado

Como sei serei,

Entre as fracas névoas

Entrevejo levas

De outros eu ser.

Acordar o tempo

Meio a madrugadas

Tateando a luz

Numa fresta mínima

Que vem amanhecer

Minha arte vária,

Variada ser.

Me trazendo de volta

Ao princípio de viver

Onde fui melhor...

O silêncio é dourado

De palavras doces,

Amargando a vinda

Desse sonho perdido

Entre realidades...

Que acordado vivo.

Ando pela aí... ruas

Cheias de madrugadas

Desmanteladas

Em bêbados fechando

Bares fétidos

E uma manada de outros

Indo batalhar.

Estou acordado agora?

O que sobra do sonho,

Senão essa verdade

Doída de viver?

Resta o sonho lindo,

Esperançado findo

No acontecer,

Que em sendo só,

Garanto o silêncio

Almejado no sonho

Persistido reter.

sergiodonadio.blogspot.com

editoras: Scortecci, Saraiva. Incógnita (Portugal) Amazon Kindle(EEUU) Perse e Clube de Autores

Do filme

Amor entre ruínas, excerto:

Se vir por aí

Um antigo amor, estacione,

Peça a vez,

Finja estar enamorado

Outra vez...

Se encontrar por aí

Um outro amor,

O que restou do que se foi

Uma vez.

Conjugação dos setenta anos

Hoje eu fiquei dia,

Depois de tantas noites...

Orgia?

Olhos inchados de ressaca?

Uma pequena dose

De consciência:

Bem sei que as almas

Não são engenheiras,

Advogadas, médicas...

Sem formação nenhuma

Que as aplaque

E as faça diferentes...

Então... Por que,

Nessas hostes de chegada,

Idolatram essas gentes?

Hoje estou mais velho

Que Pablo, o Neruda,

Vinicius, o dos Moraes...

Que sucumbiram antes

Dos setenta. Um dia

Alcançarei a longevidade

De Quintana, de Drummond,

Nesses anais...

A vida passa rápida,

Como quem, com muita pressa,

Se fez viver... E viveu-se.

Nesse passo lento despeço-me

Desses que se foram antes,

Congratulo-me

Com os mais idosos,

Sem a pressa de irem-se.

Hoje, mais velho que muitos,

Pela rua,

Mais velha a cada instante,

Sabedor de não saber

O que pensava saber

Antes.

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sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 21/03/2016
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