VÍCIOS
Escrevia sobre os seus VÍCIOS.
Como se fossem imperativos morais. Mesmo os menos conscientes.
Com as pálpebras iluminadas e a impaciência em redor.
Porque tudo nos cerca, até os sonhos.
Os lugares são sempre de outros e seremos uma presença
diferida em qualquer história mais profunda. Pensava nos objectos perdidos desde a infância. Mas o importante era a emoção,
a percepção do que não volta.
Em torno dos dias havia uma alameda e o amor, o desejo latente
e os lábios sedutores - deixámos os ombros estendidos na relva ausentes do tempo ou nós discordantes de tudo sem nós.
Agora vê-se o oceano entre plantas cuidadas, as sombras divergindo
sobre os mortos. Os cactos, muros brancos e casas humildes de outra gente.
Escrevia esse vício intemporal de lembrar, a dor que embriaga a memória.