NORDESTINO SONHADOR

Ainda quando menino

Lembro – me muito bem

Quando meu pai me alertava

Dizendo dos desatinos sofridos

Das desavenças do destino.

Ao chorar era achegado

Com olhos de rapina

Dizendo que na vida

Cada lágrima tem seu valor

No silêncio da noite limpando a alma

Para o calor de um novo dia.

Assim cresci e homem feito

Trabalhei muito até os calos

Sofrer mais que as dores na mão.

Arrumei uma companheira

Cheia de formosura rica na lida

Criativa no forno fogão.

Não demorou muito os filhos

Chegaram no total de três

Esses por sua vez ajudaram

Na construção de nossa casa

Como puderam... Escola era necessário

Desde o primário se via logo o interesse

De cada um pelos estudos sim senhor

Não gostavam muito da lida do campo

Desejaram ser doutor... Menino quando sonha

Guarda todo tipo de segredo

Dentro da fronha.

Nessa terra que tudo dá quando chove

Passamos por provação Divina

Foram dias de muita dureza

Eu, a mulher, os meninos e a menina

A velha sina do nordestino.

Veio a doença e a mulher se foi

Logo depois os filhos tomaram rumo

Na vida...

Todos, pessoas de bem, não foram ladrões

Nem rapariga.

Terminei sozinho nessa imensidão de terra.

Com a desventura fiquei cada vez

Pobre, solitário nada mais plantei

Agora era apenas recordações perdidas

Até a luz me tiraram, ficando apenas

O brilho das estrelas desses sertões

De luas frias...

Hoje na estrada todos passam

Veem uma casa abandonada

Não me enxergam

Virei uma alma penada.

Apenas esse poeta em sua jornada

Viu uma beleza e desejou contar

Em versos essa estória de um nordestino

Sonhador.

Fernando Matos

Poeta Pernambucano

Fernando Matos
Enviado por Fernando Matos em 21/03/2016
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