ESTUPRO
Antes, o caminho era outro
bom motivo na boca sorriso
sem escárnio ele e ela eram
mãos alegres na pele macia.
Mas a mão suave torno-se de ferro,
ele puxou o freio.
O carro parou noutro ponto
noutro ponto escuro da rua.
Ninguém passará por aqui, nem asfalto tem.
Pára, não quero. Não, pára não quero. Não.
Ele bate na cara dela uma vez, e de novo mais vez.
O carro é velho mas tem eixo novo o chassis.
Molas sob o couro do acento,
tudo gira hálito engrenagem.
Com força de novo, estofado
estofado,estofado, estofado.
Ferro
ferrugem
graxa
farrapo
farelo
fuligem
de novo, metal conta metal.
Estofado rasgado, estofado
fuça, esfrega, fúria, estofado de novo grito abafado.
O sangue na boca dela sai de entre as pernas,
da boca escancarada, boca silenciada.
Antônio B.