ESTUPRO

Antes, o caminho era outro

bom motivo na boca sorriso

sem escárnio ele e ela eram

mãos alegres na pele macia.

Mas a mão suave torno-se de ferro,

ele puxou o freio.

O carro parou noutro ponto

noutro ponto escuro da rua.

Ninguém passará por aqui, nem asfalto tem.

Pára, não quero. Não, pára não quero. Não.

Ele bate na cara dela uma vez, e de novo mais vez.

O carro é velho mas tem eixo novo o chassis.

Molas sob o couro do acento,

tudo gira hálito engrenagem.

Com força de novo, estofado

estofado,estofado, estofado.

Ferro

ferrugem

graxa

farrapo

farelo

fuligem

de novo, metal conta metal.

Estofado rasgado, estofado

fuça, esfrega, fúria, estofado de novo grito abafado.

O sangue na boca dela sai de entre as pernas,

da boca escancarada, boca silenciada.

Antônio B.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 20/03/2016
Código do texto: T5579372
Classificação de conteúdo: seguro