Imitação de poesia

A todos que elogiam

somente por elogiar

digo, o elogio me espanta,

e devia recomendar

prudência, paciência,

clemência, compaixão,

pois os que imitam poesia

acobertam com palavras

o que não se pode comunicar.

Assim como um elogio

não comunica nada

apenas um lembrete:

te entendo camarada,

ah, queria poder te entender,

estar presente, contigo sofrer

as dores que só tu sentes,

nas palavras que tens em mente,

e no que queres comunicar.

Suassuna, aos oitenta,

se diz poeta obscuro,

não faz comunicados

em forma de poesia,

usa imagens estranhas,

que poucos compreendem,

elogia Lorca, outro obscuro,

quando diz:

“verde, que te quero verde”...

E eu te quero verde

de esperança,

assim como quero ver-te,

sempre,

“cavalo que vai na montanha,

barco que flutua no mar”,

sempre, sempre,

poeta que emite poesia,

verde que eu quero ver-te,

cavalo, montanha,

barco, mar.