falácia (falo porque calo)
Essa coisa de meter o cacete no outro me parece a mim a grande invencionice divina: Deus só pode ser um cacete duro, metendo.
Essa coisa violenta leve macia que parece plumagem e cactos, que é invasão e carinho; esse troço de penetrar o outro em busca de si, do UMMM, dos dois, de tudo e do nada. Apenas o gesto incontido de existir em dois. Essa coisa é.
E como é esse outro a que chamam amor que nunca toca, que está nas lonjuras, no infinito, nas alturas, no que nunca fui e nem poderei ser?
Como é isso de amar-não-sentindo? Como é isso de reduzir o amor a uma mornura vexante, quadrante, geometricamente acabada, sentimento diáfano e não vivenciado, pois que medido na métrica maldita dos miseráveis de ternura?
Amar é perceber teu pau duro em minha direção a cada vez que tocas minha pele leitosa, rubra, exasperada em te receber, em te desejar me violentando, me decifrando.
Amar é sentir meu corpo-sentimento, minha fundura agônica se fazendo esfíngica e te impingindo um enigma sempre decifrável: decifra-me e me devora.
Amar é meter-se a si em mim. Mi, dó, ré, sol. Os sons do amor. Os tons do amor. A febre lúbrica. Aquecimento global. Os líquidos. De-leite. As lições nunca aprendidas. O depois. Espasmos. Máculas. Nódulos ensangüentados.
Meter é amar. Aprofundar-si-nos. Violenta carícia. Ervas maceradas. Ardência até doer. Amar é sobre-humano. Amar é Deus: o grande caralho criador do ato a que chamamos amar.