Origin
As palavras não fazem aniversário,
se disserem o contrário desacredite
Mais valem as palavras que não envelhecem,
sem começo nem fim,
sem dia certo
Celebrar o fluxo divino do Verbo,
a língua, única coisa santa,
a mais imaculadíssima que conheço,
é deixar a palavra nascer ao pé do ouvido
Às vezes, ouço uma música bonita,
dolorizadinha ela vai molhando a seara
Tudo que nasce, cresce
É mais raro que nasça poesia sem desbaste
No fim das contas o que desbata sou eu
A poesia apara-me as arestas
penteia as ramas de mim, eu que nem sei...
Quando me dou conta
estou encarando um textinho
no fundo branco
e o que sinto é amor, mesmo se estiver triste
O amor de poema é fininho; parece que trisquei num anjo
quando as palavras vem assim
Nem sequer penso em metáforas
é tudo natural
Tenho certeza:
a palavra vem da Origem
Hoje me prostro, também declaro
com os olhos fechados:
Correspondo a este amor do Verbo,
pois que dá palavra procedem meus
abismos,
essa minha humanidade louca.
O meu querer que não cessa;
bem querer.