VÃO DO ESPELHO

No vão do espelho nos trombamos

um tanto assustados nos tocamos, nos trocamos,

nos chamamos pelo nome, pela cor, pelo cheiro,

pelo dom, por um vai e vem qualquer.

No vão do espelho nos encharcamos

feito suor largado num curtume qualquer

feito voz que mal sabe seu algoz,

mal sabe seu tempero.

No vão do espelho rasgamos nossa alma

sem pena, sem culpa, sem dó, sem cantiga de roda,

como escravos voluntários no mesmo aparte,

como lembranças bastardas de um amém qualquer.

No vão do espelho nos refastelamos feito cobra no cio,

deixamos escorrer cada encardido que teimarmos em parir,

deixamos ir embora cada saudade que viríamos a ter,

deixamos sorrir cada migalha de amor que sobreviver em nós.

No vão do espelho vou atrás das suas miçangas de gazela

fazendo tremular as palavras que arranco da sua pele,

fazendo alucinar todos os sonhos que chegarem de penetras,

fazendo revoar cada desvio serelepe da paixão.

Assim, mais ungidos do que a graxa que nos faz berrar,

vou decantar suas câimbras sem a fuligem que Deus deixou por aqui,

vou me fartar das suas fronhas puídas até o tempo debandar de vez,

vou olhar para trás e dizer que cheguei,

cheguei pra ficar, meu amor.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 14/03/2016
Reeditado em 14/03/2016
Código do texto: T5573060
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