MINHA FUGA
Cá no meu silêncio burocrático,
Onde todos me escutam e não se faz ouvido,
Cá nesse riso sofrido duma vã força suporta,
Está no meu peito um crucifixo.
Coberto na camisa parte semiaberta,
Vejo sua luz refletir num antigo espelho,
E encosto minha mão em meu peito,
Acariciando sua imagem,
Lembro-me de seus feitos.
Peço em vãs palavras o seu consolo,
Que me transporte para meu fim,
Mas que esse fim seja pra bem perto de ti,
Mas encontro em seu retrato sua feição,
Me dizendo : eu também morri por ti.
E no meu belo traje de linho,
Sapatinhos lustrosos, aparência normal,
Saio ao encontro da maldade,
Da perfeição Adúltera,
Pois não tenho mais amor,
Apenas uma suposta compostura.
E quando volto já os galos cantam,
cantos dos poleiros que ressoam,
dos mil pecados recrutados na noite passada,
e meu peito arrenda-se de perguntas,
era uma fada ou uma prostituta?
Arrependido consulto os bolsos,
Da tristeza por estarem vazios,
Da farra gloriosa e amiga,
Da ressaca dos perfumes insanos.
Nisso tudo busco um rito,
Prometendo que já não mais volto,
À passarela dos vencidos.
E banho-me em água corrente,
Na certeza de limpar a min’alma,
Dos perfumes de beijos calientes,
Só almejo retornar a minha calma.
Arthur Marques de Lima Silva
13/03/2016
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