MERCADO LIQUIDAÇÃO
Desçam a proteção das vitrines, não venderemos mais nada.
Não importa saber se nos olhos de quem passa, encontra-se qualquer sinal de vontade. Faremos do amanhã um feriado prolongado. Não venderemos mais nada, nenhuma ideia, nenhum sonho, nenhuma poesia.
A juventude está sempre sedenta por novidade, agora nos dá as costas do outro lado da rua. Protestam arrogantes, ignoram que
vestem o que foi comprado no mercado, comem o que foi comprado no mercado. No oco de suas cabeças ventam ideias forjadas pelo mercado.
Os sonhos dessa juventude foram barganhados no mercado.
Seus pais dormem tranquilos abastados de toda sorte, aventura e conforto. Sonham luz elétrica, água quente encanada e outras ideologias fornecida pelo mercado.
Não apresse o passo, essa gente vive no fosso e caminha sem dizer bom dia.
É largo o caminho das delícias, sabe o mais experiente viajante.
Desçam a proteção das vitrines que mesmo sendo única
a vida se repete em ciclos dentro de ciclos. A farsa trágica da eterna repetição.
Hoje não venderemos. Guardem o que foi revirado
nas prateleiras, vamos para a feira na praça.
O mercado decreta, amanhã é feriado.
Baltazar