Ampulheta
Fogem-me os anos
Foge-me a razão,
Fogem-me as palavras,
Foge-me a inspiração,
Amargura-se minha poesia,
Sem sonetos todos os dias,
Perdem-se as musas,
Lembranças, difusas
Onde está o discernimento?
Queimam-se terminais,
Apagam-se certos momentos,
Não monto mais abstrações,
Hiatos aparecem na biografia,
Perdem-se informações todos os dias
Esvaindo-se, os anais, pelos dedos da mão
O que o tempo está fazendo comigo?
Me esquecerei de todos amigos?
Então, vazio, eu me tranco,
Vendo o tempo sorrateiro
Levar meu mundo inteiro
Fazer de mim uma folha em branco