MARÇO SANGRENTO
I.
Se é rubro o março aos dentes dos rochedos
E breve o dia a tantos maus enredos
O outono traz meus sonhos prediletos
Embora o espanto em sítios mais secretos
Que a essência mesma de mortais segredos.
Abrigo riso antigo – já sem medos
Contesta a vil mordaça dos degredos.
Que o mal tem filho, e amigo, e esposa e netos,
Se não me engano, há indícios bem concretos...
Seu cúmplice é um ladrão de nove dedos.
II.
Lambança assim na história sem registro
É o brinde da histeria dos esquerdos
Cumprido em nós destino o mais sinistro.
A farsa é só o patético suicídio
Em massa, o equívoco de sensos lerdos
E a lama ubíqua em falas de Delcídio.
Quem faz sinônimos governo e crime
Tem dívidas morais, não tem vergonha
Se faz ministro o bandidão do time
A terrorista louca, a mais bisonha.
Blindar a retaguarda se lhe oprime
A ‘voz das ruas’, como anda tristonha...
Abolida a verdade, não se exprime
Seu vestígio no vício que ainda sonha.
III.
Traições ao telefone, quanto assunto
Secreto, é muito para uma cabeça,
Demais para um país – o mal confessa
Seus meios em sigilo, nem pergunto –
Não mais – se é mortadela ou se é presunto
O preço desse povo que se engessa.
A idéia a seqüestrar por fim o mundo –
Delírio gnóstico além da promessa
Dos desastres do espírito – não cessa
Seu discurso, na voz do vagabundo
Ecoa na avenida, não o confundo
Com nada que me traia medo ou pressa.
IV.
Se a corja apela ou chora e o óbvio ulula
E a cara, se é de pau, não treme ou cora
Melhor trancar a vítima impostora
Que ofídio, aqui, rasteja e voa e pula.
Ninguém suporta mais o desaforo –
Pedir justiça eu peço, não imploro
Por dignidade que me sai tão caro.
Viver com jararaca é mau agouro
Que se resolve à custa dum disparo.
E o fim do túnel nunca foi tão claro
Nem de serpente assim tirar o couro.
O agora quer ser mais, quer ser seguro
Como já foi, num dia com futuro.
V.
Que acabe logo a angústia desse mês
Que morre e morre louco e o quanto espuma
É mal não visto em medicina alguma,
É mal do espírito, é mal de Caetés...
Que cesse o fumo pelas chaminés
Enquanto afunda em si por fim que em suma
O azar veio a ser meio que a verruma
Da verdade contando ‘era uma vez’...
Que seja breve a afronta do que berra
No convés que suporta as penas duras
Do destino que ignora a quem bem ferra.
Que a coisa dure menos que as torturas
Que o delírio vendido nunca enterra
Mas faz alarde em cúmplices gravuras.
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I.
Se é rubro o março aos dentes dos rochedos
E breve o dia a tantos maus enredos
O outono traz meus sonhos prediletos
Embora o espanto em sítios mais secretos
Que a essência mesma de mortais segredos.
Abrigo riso antigo – já sem medos
Contesta a vil mordaça dos degredos.
Que o mal tem filho, e amigo, e esposa e netos,
Se não me engano, há indícios bem concretos...
Seu cúmplice é um ladrão de nove dedos.
II.
Lambança assim na história sem registro
É o brinde da histeria dos esquerdos
Cumprido em nós destino o mais sinistro.
A farsa é só o patético suicídio
Em massa, o equívoco de sensos lerdos
E a lama ubíqua em falas de Delcídio.
Quem faz sinônimos governo e crime
Tem dívidas morais, não tem vergonha
Se faz ministro o bandidão do time
A terrorista louca, a mais bisonha.
Blindar a retaguarda se lhe oprime
A ‘voz das ruas’, como anda tristonha...
Abolida a verdade, não se exprime
Seu vestígio no vício que ainda sonha.
III.
Traições ao telefone, quanto assunto
Secreto, é muito para uma cabeça,
Demais para um país – o mal confessa
Seus meios em sigilo, nem pergunto –
Não mais – se é mortadela ou se é presunto
O preço desse povo que se engessa.
A idéia a seqüestrar por fim o mundo –
Delírio gnóstico além da promessa
Dos desastres do espírito – não cessa
Seu discurso, na voz do vagabundo
Ecoa na avenida, não o confundo
Com nada que me traia medo ou pressa.
IV.
Se a corja apela ou chora e o óbvio ulula
E a cara, se é de pau, não treme ou cora
Melhor trancar a vítima impostora
Que ofídio, aqui, rasteja e voa e pula.
Ninguém suporta mais o desaforo –
Pedir justiça eu peço, não imploro
Por dignidade que me sai tão caro.
Viver com jararaca é mau agouro
Que se resolve à custa dum disparo.
E o fim do túnel nunca foi tão claro
Nem de serpente assim tirar o couro.
O agora quer ser mais, quer ser seguro
Como já foi, num dia com futuro.
V.
Que acabe logo a angústia desse mês
Que morre e morre louco e o quanto espuma
É mal não visto em medicina alguma,
É mal do espírito, é mal de Caetés...
Que cesse o fumo pelas chaminés
Enquanto afunda em si por fim que em suma
O azar veio a ser meio que a verruma
Da verdade contando ‘era uma vez’...
Que seja breve a afronta do que berra
No convés que suporta as penas duras
Do destino que ignora a quem bem ferra.
Que a coisa dure menos que as torturas
Que o delírio vendido nunca enterra
Mas faz alarde em cúmplices gravuras.
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