cenário vinte e cinco
essa série de cenários, minha trajetória de vida, procura mostrar exatamente isso: Minha trajetória. espero tenha sido compreendido. um abraço de gratidão a todos os companheiros dessa lavra, poesia.
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Sergio Donadio
15 h ·
Cenário vinte e cinco
No meio dessa mata,
Por todos os entardeceres
Venham falar dessas virgens
Quarentonas, centenárias,
Lembrar quinzanos da fulaninha,
Saber das coisas aos poucos,
Mentir das horas contadas
Num velho relógio cuco
Que não tem a dizer mais nada.
Venham contar os seus medos,
Suas pedradas,
Que vou ter por desabafo
Saber que nesse cagaço
Não sou único, sofrido, lesado,
Ver em vossas testas sofridas
Mais lembrança que feridas...
Na vossa fala tremida
Não mais as lisonjas baratas
Mas as bolinações vividas.
Venham contar esses podres
Que completam nossas vidas.
Cenário vinte e seis
Compadres das dores sofridas,
Venham contar em gestos
A outra versão de suas vidas
Que quero ter por guarida
Os sonhos, não pesadelos,
Das pastarias cercadas,
Voejando pelas campinas
Comendo onde se comia
Vendo findar outras tardes...
Venham comparar as dores
Às dores comparativas...
Lembro da velha égua,
De sua hora de partida,
De como era o engenho,
De como era a lida...
De como fácil a corrida.
Venham, compadres,
Que eu não esteja só
Nessa varanda vivida
Vendo o frio entardecer
Penosamente os sinos
Da hora da Ave-Maria.
Cenário final
Amanhã será novo dia,
Quem sabe a tarde seja ainda
Uma manhã nevoenta, quando vier...
Quem sabe esteja morna, quando vier.
Penso nas frases soltas que reservo
Para quando a tarde vier.
O dia nascerá da penumbra
Nesse canto vespertino,
À espera das sombras levantarem-se,
Das fontes límpidas retornarem
Aos sentimentos criança...
Das coisas úteis, esquecidas na lida,
Como a paz de viver de eu menino,
Frente à infantilidade do adulto...
Quem sabe, as fulaninhas,
Quem sabe as águas das fontes,
As cercas derrubadas...
As pedradas... Ah, as pedradas...
Indo embora na fumaça do perdão
Enfim chegado, entendido ser,
Posto à mão conhecer
De eu menino crescer.
Cenário em festa
Distribuo sorrisos,
Não me vejo otário,
Não vivo o paraíso do inocente
Nem o inferno do descrente...
Reflito sobre cada ato falho,
Respondo cada um premente...
Aqui me calo novamente
Frente à veracidade desse atalho:
Não somos planta pronta,
Somos sementes...
Amanhã será novo dia!
Quem sabe possa ainda sorrir
Essa alegria de somar dados
E dar conta do fiz de errado...
Sorrir talvez da própria alegria
Da malícia de parecer otário
Na vivência que te faz a mim
Parecer idílico... Ovário
Desse próximo grito: Estou vivo!
Mesmo calado.