Duas trilhas
Hoje o céu acordou gritando, chorando
Persisto ainda em não ouvir.
Esta noite sentei-me na cama com meus sapatos cômodos,
Meus olhos cegos, travados, profundos, mortos.
Tão nefasto beco do dualismo.
Sou um demônio que não consegue fugir do inferno, porta fechada,
Violão sem corda.
Abismo sem começo e sem fim.
Onde estamos? Quem somos ?
A minha essência insiste
Em vagar como uma alma atormentada.
Eu costumava ficar preso no seu cabelo,
Dormir em seus braços,
Sempre nadei em suas lágrimas à procura de um barco, um refúgio, morri afogado.
Eu sabia que estava perdido
Nunca traçei um rumo,
Simplesmente seguia a trilha, as vezes derramava sangue,
No topo colhia flor.
Eu sempre tive dificuldade
Para encontrar as migalhas de pão estragado,
Nunca soube onde queríamos chegar e
Muito menos por onde ir.
Como posso eu confundir o
Espaço com o céu, fada do dente com o papai noel,
Véu com chapéu.
Tomei sangue, antes fosse vinho, sonho dantesco, mas não quero acordar.
Na amarga solidão eu te amei.
Na noite as batidas do relógio soam diferente,
De trás para frente.
A vida inicia-se com o fim,
E termina com o começo.
Em que momento prendi o meu pé na armadilha?
Quando deixei de existir afinal ?
Quando parei de fumar o meu cigarro hediondo?
Os homens sábios dizem que o amor é um renascer das cinzas que se repetirá eternamente.
Nos seus cabelos não ficarei mais preso, e suas lágrimas, bom, não irão me afogar...
Quem clama o amor, encontra a dor...