JOÃO PEQUENO CARA DURA

Um caso raro

Ocorreu lá para as bandas

Da longínqua, Serra D'Arco.

Ali nasceu, João Pequeno,

Um garoto sem sorriso

Ou qualquer tipo de expressão.

Ele saiu do ventre sem chorar,

Porém o que parecia

Um sinal promissor de valentia

Ante a vida, mostrou-se ser um

Estigma do pobre garoto.

Sua linha de rosto férrea

Jamais refletia mudança.

João Pequeno não chorava,

Não sorria, não demonstrava.

Seu rosto era uma máscara lisa.

Sem rugas, sem traços, sem marcas,

Sem feição. Nada alterou sua implacável

Fisionomia de aço impenetrável.

Veio a idade, a profissão, o amor,

O casamento, o primeiro filho, a dor,

Chuva e sol, até a morte o testou.

Todavia, nada furou sua carapaça,

Nela, nunca brotou sorriso ou lágrima.

Todos de Serra D'Arco, o chamava

De 'Cara Dura', pois não se achava

Qualquer rastro naquele rosto, Que parecia uma pintura

Estática, imutável, no entanto, bela.

João Pequeno Cara Dura

Passou a vida inteira

Sendo uma incógnita

Para as pessoas de Serra D'Arco

E para aqueles que o amou.

Sequer quando morreu

Demonstrou alguma coisa.

Assim como chegou ao mundo

João Pequeno se foi: liso.

Sem qualquer estria dos sentires humanos.