Implacável

Em algum quilômetro

Atrás do tempo

Perto de Vênus

Fiz de mim ruína.

Tanto cinema, música, anedotas

Quanta lorota para um tema de amor.

Dividido entre passado e futuro

O olho no espelho de quem desmorona

O rosto continua ali, implacável.

A fruta continua mordida

Olhos vidrados vendo a hora passar

Pessoas sem pressa

Enquanto tenho dores no estômago

Transa sem par, solução e problema.

Distante do parto sou minha criança

Num gole de um dia em que termino só,

Não há serenatas

Quando os músicos somem

Corda infinita esticada

Esperando o nó

Enquanto meus nervos ardem

Os homens seguem tranquilos.

Aflição inominada

Senta no banco da praça

Calendário contínuo a passar

Plantas crescem, árvores, edifícios

Chuva num dia mesquinho

Em que se lembra do amor

“Essa palavra de luxo”

Como diz Adélia Prado

Mas saio sem embaraços

Para o mundo que vai nascer.