cenário dezessete
Cenário dezessete
Acordo, assusto assustado
O assustado do meu lado,
O trem vagueia o trilho alisado,
Mostra a face vermelha
Do vagão descarregado
Cheirando porcos e vacas...
Sonhei que fora descarregado
Com os porcos e vacas
E o homem vestido branco sujo
Cheirava excrementos de nós,
Comendo desse brejo,
Tomando dessa cerveja
Senti-me mal cheiroso, levado
Pelo sonho de ter vivido
Entre essa porcaria,
Mal dormido, mal acordado
Vejo os porcos ao lado,
No brejo ribeirinho abanando
Seus rabos parafusos, felizes...
De estarem si revividos.
Cenário dezoito
Corro para o banheiro
Lavar-me desse sonho,
Volto, o prato feito lá está,
Fuço esse brejo que é de direito
E sinto-me dormitando entre eles
Numa harmonia perfeita.
Aqui me dou por chegado,
Deito na rede de espera
Sonhando, o olho acordado...
No horizonte a cavalgada da égua
Leva-me a ouvir passos a léguas...
Sentindo sua vontade de chegar
Mas tendo por muro a velha pedra,
A que também a mim ameaça,
O laço que a persegue na cerca viva,
Triste cena de verdade
Estrepando patas...
Sergiodonadio.blogspot.com
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