O mestre e a obra

O mestre

vê sua obra

decepando em dois

a pelica cobreada

do igarapé, conduzindo

caboclos aos seus (in)certos destinos...

Um sentir confuso

entre orgulho

pela obra acabada

e melancolia por já se estar

acabando, consumida

pela mesma causa primeira

que a fez flutuar: água,

este miolo líquido

que engole (em parte), suporta

e leva-e-traz

cascos, montarias, canoas,

rabetas, batelões e vigilengas...

e pessoas, principalmente estas.

Do Porto do Pelé,

desde o Tamanduaquara,

pelo Murubira,

Pratiquara,

pela Ilha de São Pedro,

pelo Pirajuçara,

pelo Furo das Marinhas,

ilhas Maruins

rumo da Ponta do Queimado...

Suas obras

em madeira da Amazônia

desembocam nas três baías,

ganham o Pará,

o País, o planeta... singram

-- sob a Via-Láctea --

os (des)caminhos

de água e de canoa,

driblando botos,

enganando a boiuna,

(des)encantando os encantados

do fundo do riomundo...

E de todos os lugares,

sua obra vê seu Mestre...