Aos poetas sóbrios

Tenho as mãos amarradas

E os meus pés são de barro.

Se procuras rimas, não as encontrará,

Se busca a dor, esta regozija demasiadamente.

A métrica não cabe em meu sofrimento,

A lírica desmanchou-se no ar.

Onde encontrarei a paz?

Na terra, na árvore ou nos rios,

Que, por assim serem, a desconhecem.

Ergui meus gládios e minhas hastas,

Destruí castelos de cristais.

Queria a astúcia de Ulisses e a glória de Aquiles;

Pereci em um mundo de trevas,

Sou o barro que ergue a humanidade,

Fui o verbo, hoje, sou adjetivo.

Não me procures nessas linhas,

Tive medo, tenho medo e sou o medo.

Li e reli a vida, dela nenhuma rima tirei,

Somente estes versos podres que lhes entrego.