Torrente

Às vezes a tristeza

Extravasa

A razão, o sentido

E se perde de seu motivo

Paira sobre o vazio

Profundo

De um suspiro

Há momentos em que a dor

Penetra fundo na pele

Atravessa a carne

Se dissemina no sangue

Apega-se aos ossos

E, mesmo assim

Se liberta do corpo

Para permanecer

Aonde nenhum remédio a alcança

E o luto repousa

Como beija-flor imóvel no ar

Num equilíbrio fino

De malabarista

Não há o que explicar

Palavras desaparecem

Levam junto a fome

E trazem uma enorme sede

Que água nenhuma sacia

Em rios caudalosos

Explodem as fontes das águas

Rompem-se em torrentes

As lágrimas

E o corpo é um não-lugar

O pensamento vagueia

No limbo do luto

E nada do mundo é real

Ou, pelo menos,

Não queremos

Que seja.

Éder Rafael de Araújo
Enviado por Éder Rafael de Araújo em 26/02/2016
Código do texto: T5556213
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